quarta-feira, 13 de outubro de 2010

História de Moda – Moda e Identidade Brasileira

Carmem Miranda e a primeira fantasia genuinamente brasileira, criada por Alceu Pena

Qual distância existe entre a moda e a identidade brasileira? Distâncias? Não, ao invés de distâncias existem pontes, reflexos, e a moda é como o espelho de Narciso onde a identidade aparece refletida.

De forma simplista, entende-se por identidade o conjunto de caracteres (nome, idade, sexo, religião, língua, cultura, história, etc) que distinguem uma pessoa ou país de outro. Entre os conceitos de moda, está o costume ou estilo, em geral efêmero, aceito e imitado por um grupo ou meio social em certa época ou lugar. Esse costume ou estilo refere-se, nesta pesquisa, à forma de vestir e está em constante mutação.

O estilo é a maneira particular de se expressar uma arte, uma identidade, uma moda. Esta pesquisa visa identificar um estilo brasileiro na moda. Um estudo para demonstrar e questionar sobre o processo de formação do estilo brasileiro na moda.

  A moda brasileira costuma ser considerada apenas uma cópia das coleções do grande eixo fashion ? Paris, Milão, Londres, Nova Iorque, Tóquio ? sendo constantemente desvalorizada em detrimento desse eixo, como se o brasileiro não tivesse uma identidade própria ou cultura de valor. Sob tal perspectiva, há uma necessidade de busca e identificação de indícios estilísticos brasileiros, percebendo elementos de adequação que funcionam muitas vezes como “herança cultural e DNA” (Palomino, 2002) e que desencadeia aos poucos, “os recursos para deixar apenas de copiar as revistas estrangeiras ou simplesmente traduzi-las” (Castilho, 2001).



Zuzu Angel estilista  brasileira reconhecida internaciolnalmente no final dos anos 60 e início dos 70
Compreender o processo que desencadeou essa efervescência de moda  no Brasil é essencial, para que não se perca um rico potencial criador. Esse mercado ganhou proporções de relevância, tanto do ponto de vista econômico, quanto cultural, demandando por um estudo acerca da sua importância nos costumes, na identidade e na economia nacional.

Por um outro lado, segundo Wandy Cavalheiro, o avanço dos negócios da moda, da eficiência tecnológica e dos resultados econômicos têm levado à busca da compreensão do fenômeno da moda, desencadeando seu estudo e levando-a a ser tratada seriamente neste país, pois, abarca não apenas a evolução do setor, como também um avanço da própria população brasileira.

Esta é uma análise simplificada dos principais componentes do vestuário  brasileiro, visando identificar elementos de adequação e indícios estilísticos brasileiros. As afirmações foram resultantes da comparação de dados obtidos nas entrevistas com profissionais da área (principalmente Queila Ferraz, Robson Drezet e Solange Wajnman, sem o apoia dos quais essa pesquisa não teria sido possivel). E  da observação prática  do vestuário.

O molde constitui-se numa peça de papel, cartão, etc., pela qual se corta o tecido e reproduz uma roupa.

A modelagem é fundamental na estrutura da roupa e o bom caimento da peça no corpo depende de uma adequada tabela de medidas.

Dentre as características brasileiras desenvolvidas na moda, esta é a mais marcante e perceptível. Também a mais adequada para a nossa realidade, pois, valoriza o corpo e dá ênfase à sensualidade, características marcantes na moda brasileira. É bem adequado ao clima, pois tem formas muito “leves”.

O que é bem demonstrado na moda praia e no jeans, segmentos onde o Brasil já desenvolveu um estilo próprio, ligado ao tropicalismo e à sensualidade.

Tecidos

A adequação dos tecidos à realidade brasileira ainda tem um campo vasto a explorar, pois, o fator econômico limita a adaptação das matérias-primas ao clima brasileiro.

As fibras naturais, que são as mais adequadas ao clima, possuem um alto custo, devido à complexidade de sua cadeia produtiva. Em vista disso, as fibras sintéticas, que são mais baratas, acabam sendo mais consumidas, apesar de não possuírem características ideais para as condições brasileiras.

No Brasil, a indústria têxtil do algodão se destaca, onde são desenvolvidos tecidos de qualidade, mas que na sua grande maioria são reservados para exportação.

Outra característica interessante, quanto a tecidos é a evolução do jeans brasileiro, onde houve a diminuição do peso do tecido, gerando um jeans mais leve e portanto, mais confortável para o clima tropical.

O uso da Lycra (fio de elastano), na composição de diferentes tecidos é muito comum e também já se tornou um diferencial da moda nacional.

Outro fator marcante é a grande possibilidade de desenvolvimento de matérias primas a partir de material brasileiro, o que pode vir a ser um grande potencial do país, por causa das riquezas naturais (fauna e flora) e culturais (artesanato, por exemplo) praticamente inexploradas. Mas falta a pesquisa, que esbarra na questão econômica, pois, não há no país quem financie esse processo.





Cartela de cor também poderia estar está entre os maiores potenciais do país, devido à luz e ao clima brasileiro. Mas esbarra na questão financeira e também na forma de organização da indústria brasileira, onde a maior parte é de pequenas e micro empresas desorganizadas entre si e sem possibilidade de desenvolver as cores aqui, obrigando as grandes empresas, a também buscar as mesmas referências de cores estrangeiras.

Apesar de haver adaptações dessas cores às diferentes regiões do país, estão sempre calcadas nas tendências internacionais.

Neste aspecto o Brasil só se desenvolveu na moda praia, onde possui cartela de cores e estampas desenvolvidas no próprio país, geralmente inspiradas em temas nacionais.

Há afirmações sobre uma inicial evolução neste ponto e que não seguimos tão inquestionadamente as tendências internacionais. A cartela de cor brasileira é bem mais colorida e exuberante, começando a assumir timidamente uma postura tropical.

Ornamentos

O Brasil é um país de natureza bonita, rica e exuberante. A história brasileira é marcada por contradições em todos os níveis de sua formação. A maior parte da população brasileira vive em estado de pobreza.

Estes paradoxos refletem-se principalmente no gosto por ornamentos, expressado pela mulher brasileira, que muitas vezes é classificada de ‘barroca” , estilo que trás no seu conceito a marca das contradições.

A riqueza de detalhes, aviamentos, recortes, acessórios está entre as características da moda brasileira. O que, não apenas reflete a exuberância natural do país, mas também suas contradições e reafirmações.


Identidade Brasileira na Moda – Anos 80

O cenário nacional é de crise econômica e inflação alta.

A proliferação das escolas de moda no Brasil foi o fato mais importante para a moda. A primeira delas foi inaugurada em 85. Atualmente o Brasil é o país com maior número de escolas de moda no mundo. Tal proliferação contribui não apenas para a profissionalização do setor como também para a consolidação da identidade brasileira expressa na moda.

Outro ponto importante dos anos 80, foi o do ápice da influência das novelas da Rede Globo no vestuário de massa:

    “ (…) é o grande desfile de modas do povo brasileiro (…) pois apenas um pequeno grupo de estilistas e produtores de moda tem acesso, no país, a revistas e desfiles estrangeiros.(…) o figurinista de novela está ajudando a reforçar as tendências de moda desencadeadas no espaço das butiques e confecções da zona sul carioca, e que resultam na adaptação da moda estrangeira, entremeada com criações próprias. “ (Durand, 1988 p. 100 ).

Para Joffily outro marco foi a popularização das lojas de departamentos: o rápido e súbito declínio do “milagre” privou as confecções do seu público mais amplo. Nesse momento surgem as lojas de departamento, com uma produção de peças em escala mega industrial, oferecendo ao público opções mais baratas e sem abandonar a noção de estilo que conquistara a classe média no período anterior.

Os anos 80, trouxeram à moda nacional o ressurgimento da indústria têxtil em grandes promoções e desfiles , bem como a formação de vários grupos regionais de moda, como paulista, o carioca, o mineiro e o cearense. As grifes nacionais estavam em voga e o jeans continuou sendo o filão da moda, principalmente em marcas como Ellus, Zoomp e Fórum. De Fortaleza, apesar de paraense, apareceu o nome de Lino Villaventura, que, por meio de sua fidelidade ao seu universo subjetivo, tornou-se referência nacional. Ainda nos anos 80, jovens estilistas paulistas criaram a cooperativa da moda, transformando-se num verdadeiro laboratório do exercício do estilo, destacando nomes como Conrado Segretto, Jum Nakao e Walter Rodrigues. (Braga, 2003).


Década de 90

Abertura do mercado para os importados e crise econômica ocasionada pelo Plano Collor, este é o panorama do início dos anos 90, quando o produto brasileiro sofria severa concorrência. O que desencadeou, segundo Érica Palomino:

    “(…) a mais longa agonia do setor até então: entre1992 e 1997, pelo menos 773 empresas da área têxtil fecharam, e mais de 1 milhão de pessoas perderam o emprego.” (Palomino, 2002, p.81)

No mercado de luxo, lojas como a pioneira Daslu, aproveitaram a abertura do mercado, para trazer grifes internacionais para São Paulo.

A popularização das grandes marcas que de acordo com Joffily, apresentou uma curiosa mutação – grandes estilistas criando coleções exclusivas para uma determinada cadeia de lojas de departamentos. Já não são mais produções anônimas, mas com as etiquetas, até então mais caras, tornadas acessíveis para uma grande parcela da classe média, devido à escala de produção dessas lojas. É o sistema de licensing incorporado à nova maneira do vestir (estilo) à realidade do mercado consumidor.

Em 1994, com a estabilização da economia o país volta a crescer, o que imediatamente se reflete na moda através de mega-desfiles – apresentações grandiosas e mirabolantes para mobilizar a mídia e gente famosa.

O estilista Lino Villaventura destacou-se como o mais brasileiro dos criadores. Assim como Walter Rodrigues. O estilista Ocimar Versolato, 1995 explode em Paris no prêt-à-porter.

Em 94 , a marca Fórum volta-se para referencias da cultura popular – era a primeira vez que uma grande marca de difusão assumia valores brasileiros, levando a uma discussão a respeito da necessidade de uma identidade brasileira na produção do país.

Modelos brasileiras passaram a chamar a atenção no panorama internacional – culminando em Gisele Bündchen – a mais famosa delas. A beleza da mulher brasileira chamou atenção do mundo.
Lino villa ventura.jpg
Apoiados na indústria têxtil, que se modernizava, os estilistas perceberam um potencial de exportação, sendo o primeiro deles Alexandre Herchcovitch.

    “Na década de 90, Alexandre Herchcovitch com todo seu arrojo e estilo e tornou-se a maior personalidade da moda brasileira atualmente, lançando suas coleções tanto em Londres quanto em Paris. Por meio do academicismo da moda, uma francesa, presente anualmente no Brasil, muito contribuiu para a formação do profissionalismo da moda nacional: Marie Rucki do Studio Bertot-Rucki de Paris. À convite da casa Rhodia/CIT (Coordenação Industrial Têxtil), Rucki vem à São Paulo ministrar sua experiência e, nomes como Glória Coelho, Reinaldo Lourenço, Jefferson Kulig, entre muitos outros, dela foram alunos.

    A imprensa nacional muito favoreceu o fortalecimento da moda Brasileira.

    Outro brasileiro que fez sucesso no exterior, em Londres foi Inácio Ribeiro com o nome Clements Ribeiro.

    Na moda jovem local, o evento para novos talentos intitulado Mercado Mundo Mix, na primeira metade do anos 90, criou a identidade da moda jovem e alternativa.

    No ano de 1996, por iniciativa carioca da Universidade Veiga de Almeida e do Instituto Zuzu Angel, foi criada a Academia Brasileira de Moda.

    O profissionalismo e o reconhecimento da moda nacional atingiram significativas proporções ainda nos anos 90. O evento Phytoervas Fashion desencadeou o processo de lançamentos regulares de coleções publicamente por meio de desfiles; até então, só acontecendo a um público muito restrito nos showroons de cada marca. Transformou-se no evento Morumbi Fashion Brasil e, hoje sob a tutela de Paulo Borges, temos o grande acontecimento São Paulo Fashion Week, presente no calendário internacional da moda, que acontece duas vezes ao ano para lançamento das coleções dos grandes nomes e grifes da moda brasileira. E São Paulo passou a fazer parte do ranking dos lançadores internacionais de moda, juntamente com Paris, Londres , Milão e Nova York. Além dos desfiles do SPFW, temos também presentes os eventos Semana de Moda – Casa de Criadores, em São Paulo e Fashion Rio ( RJ).” (João Braga)

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